quarta-feira, 25 de junho de 2008

Relato de Amamentação

Relato de Amamentação de Gisela, mãe de Stella

Minha filha, Stella, nasceu em São Paulo, no dia 30 de março de 2007, uma sexta-feira, às 8:00 horas. No sábado à noite, meu peito já estava endurecendo. Chamei a enfermeira de plantão e ela me disse que se tratava da “apojadura”, que o leite estava descendo e era tudo normal, mas providenciaria o necessário. Ocorre que as enfermeiras só apareceram no dia seguinte para fazer uma compressa fria. E já era tarde demais. Até a aréola estava endurecida e minha filha não conseguia pegar o peito.

Nos horários das mamadas, passei a ir até o berçário, onde uma das enfermeiras massageava apenas a parte próxima da aréola, o suficiente para ordenhar um pouquinho de leite e dar à minha filha de copinho. A dor que eu sentia quando retiravam o leite era enorme, mas ficava pequena perto do desespero de ver minha filha chorando de fome, aguardando inocentemente aquele ritual lento... O pior é que nem sempre conseguiam ordenhar o necessário e aí veio o momento crítico: assistir uma enfermeira dando leitinho industrializado para meu bebezinho.

Quando eu recebi alta, na segunda-feira, perguntei para a enfermeira o que eu deveria fazer para resolver a situação. Ela tomou conhecimento do que estava acontecendo e se sensibilizou. Foi a primeira a me dar orientações mais consistentes, porque até aquele momento, quando mudavam os turnos, mudavam também as recomendações. Eu cheguei a ser colocada na sala de ordenha, com a finalidade de voltar com o peito mais vazio para casa. Só que não foi o bastante.

Saí da maternidade em pânico, pois sentia que não conseguiria amamentar minha filha. E os primeiros dias foram mesmo terríveis: minha filha realmente não conseguiu pegar o peito e eu não soube ordenhar leite suficiente... Além disso, embora eu já tivesse lido em revistas que o bebê não pode pegar só o mamilo, que teria que pegar também grande parte da aréola, ela estava tão dura que era impossível. Quando minha filha conseguia sugar alguma coisa pegando só o mamilo, eu acabava deixando, pois achava que assim pelo menos ela se alimentaria um pouco. O resultado foram inúmeras fissuras e uma dor lancinante.

O choro de fome da Stella era desesperador e por um triz não pedi para alguém correr na farmácia de plantão, para comprar o tal NAN. Liguei para um médico e ele chegou a me falar que uma possibilidade seria tomar um remedinho para reduzir a produção de leite até secar.

Fiquei completamente confusa.

Foi então que consegui a indicação de uma enfermeira e obstetriz especializada em amamentação, que, mesmo fazendo um atendimento em outra cidade, já me deu diversas orientações por telefone. Depois ela me atendeu em casa, me explicou que o leite tinha “empedrado” e que teria que ser retirado, porque daquele jeito minha filha não conseguiria mesmo mamar, além de eu correr o risco de a situação evoluir para uma mastite.

Essa profissional ficou quase cinco horas em casa, conversou pacientemente comigo, dando todas as orientações possíveis sobre amamentação. Ela me ensinou como eu teria que fazer para esvaziar as mamas e, depois dela fazer uma longa massagem, senti que o meu peito já tinha voltado ao normal, o que até então parecia impossível de acontecer tão rápido.

No dia seguinte, a Stella já conseguiu mamar muito bem. Continuavam, porém, as fissuras e, consequentemente, muita dor.

Com as orientações que recebi passei a tratar dos ferimentos e, passadas algumas semanas, a amamentação já tinha se tornado um prazer enorme para mim, sobretudo porque o contato que me permite ter com minha filha é encantador e gratificante. Serei eternamente grata, pois, se não tivesse recebido orientação adequada, certamente teria desistido: com medo de minha filha passar fome, eu teria recorrido ao NAN e, possivelmente, causado o desmame precoce dela.

Passei, então, a me informar ainda mais sobre amamentação. Com ajuda das outras mães do Grupo MAMA, consegui amamentar exclusivamente minha filha com leite materno até ela completar seis meses. Quando voltei a trabalhar e a Stella passou a freqüentar o berçário, comecei a ordenhar leite e mandar para escolinha, para que dessem a ela num copo com bico de silicone, doando o leite excedente para o Banco de Leite do Hospital dos Fornecedores de Cana.

O Grupo MAMA também me ensinou os benefícios da amamentação prolongada e minha filha, agora com praticamente um ano e três meses segue mamando, firme e forte.

Hoje eu entendo porque tantas mães desistem de amamentar quando encontram dificuldades como a que eu experimentei e sequer têm consciência de todas as vantagens que a amamentação traz, para elas e para os bebês. É por isso que os grupos de apoio à amamentação são tão importantes: se mais mães tiverem a ajuda certa no momento certo, mais bebês serão beneficiados com o aleitamento materno.

Gisela

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O que é o leite materno?

O QUE É O LEITE MATERNO???

O que sabemos do Leite Materno vem daquilo que observamos do leite de vaca, um líquido branco e brilhante.O leite de canguru é rosado. Mas o que interessa é que o leite é espécie–específico, porque sua composição é feita para determinadas necessidades de crescimento e maturação do bebê de cada espécie. Por exemplo, o leite de vaca contém mais ácidos graxos voláteis que o leite humano, e bebês humanos não digerem esses ácidos muito bem; eles produzem muitos gases nos bebês. O leite de vaca também contém mais ferro mas este não é aproveitável pelo sistema digestivo humano. O bebê absorve melhor o ferro do leite materno, que também é digerido em cerca de vinte minutos, enquanto o leite de vaca pode levar cerca de duas horas para ser totalmente digerido (a fórmula). O leite materno também contém cerca de uma centena de aminoácidos, vitaminas, sais minerais, e açúcares, compondo uma receita especialmente feita para as necessidades do bebê humano.

A composição do leite também oferece a chave para o estilo e intensidade do comportamento materno espécie-específico. Em espécies cujas mães só amamentam ocasionalmente e deixam seus bebês sozinhos por longos períodos, o leite é rico em gordura e proteínas, de modo que o bebê possa ser compensado (pela proteína) e satisfeito (pela gordura) por longos períodos, sozinho. Quando o leite é pobre em gordura e proteína, como o leite humano, isso indica que a amamentação é destinada ou tende a ser mais constante. O leite humano contém cerca de 88% de água e 4,5% de gordura em média, dependendo do estilo de aleitamento; intervalos longos produzem leite com baixa concentração de gordura, enquanto a amamentação contínua produz alta concentração de gordura. Ao contrário, o leite da foca é constituído de 54% de gordura, o que é bastante. Ou seja, o bebê foca é aleitado a longos intervalos, e também precisa de altas concentrações de gordura para adquirir as grossas camadas de gordura corporal para viver em ambiente aquático.

Fluido protetor natural
Os bebês nascem com certa quantidade de anticorpos circulantes, que adquirem de suas mães através da placenta. Mas essa imunidade é frágil e eles precisam ser expostos ao mundo externo e experimentar reações imunitárias para construir seu alicerce imunitário para combater os germes. O colostro e depois o leite materno são verdadeiras usinas de protetores contra os vírus e bactérias e são uma forma transicional espetacular entre a ? pré-natal e a infância tardia, quando o sistema imunológico já se desenvolveu totalmente (pela idade de cinco anos). Essas descobertas são relativamente recentes, o que explica, em parte, a idéia de que a fórmula se compara ao leite materno.

O fator mais importante nessa barreira imunológica transferida é a lactoferrina, uma proteína que protege contra a escherichia coli e o estafilococo, as causas mais incapacitantes da diarréia e da mortalidade infantil. O leite materno também oferece propriedades antivirais que se incorporam fisicamente aos germes da cólera e a giárdia, o que explica porque os bebês amamentados, vivendo em ambientes sem higiene, são capazes de sobreviver. São importantes também no colostro e no leite materno as cinco categorias de anticorpos chamados imunoglobulinas, que protegem contra infecções e são a principal barreira imunitária dos bebês. Esse sistema é especialmente importante porque atua dentro das mucosas que revestem o nariz, os pulmões e brônquios, os intestinos – as áreas mais vulneráveis dos bebês aos agentes patógenos. IgA é uma delas.

A IgA secretora (S-IgA) é encontrada no sistema respiratório e trato intestinal de adultos. Quando a mãe ingere ou inala agentes que causam doenças (patógenos) as moléculas de S-IgA se ligam a esses agentes ou antígenos, e se tornam específicas para esses agentes. A S-IgA da mãe é transferida do sangue para o leite.Pelo 4º mês de vida, os bebês amamentados recebem cerca de 0,5 g de anticorpos diariamente, que se alojam nos pulmões e intestinos. Como as maiores causas de morte em bebês são a diarréia e a pneumonia, a imunidade conferida pelo LM reduz incrivelmente a mortalidade infantil. Há evidências de que o sistema imunológico dos bebês amamentados amadurece e se fortalece mais rápida e mais intensamente, já que não sofrem os efeitos devastadores sobre a resistência, causados pelos agentes patógenos do meio.

Referência: Our babies, Ourselves / by Meredith Small, Anchor Books, NY, 1999.


Outras observações sobre leite materno do livro "Besame Mucho", de Carlos Gonzalez.

Outra diferença fundamental estabelece-se entre os mamíferos que escondem as suas crias em tocas ou luras, como os coelhos, e aqueles que levam as crias para toda a parte ao colo, como os prima tas, ou a andar, como as ovelhas.A mãe coelho passa a maior parte do tempo possível a uns metros de distância da sua lura para não atrair os lobos com o seu odor (o odor das crias é muito mais fraco do que o da mãe). Vê o que lhe dizia? Voltei novamente a utilizar a linguagem poética, como se a coelha fizesse as coisas de propósito. Ela não sabe nadasobre o odor nem sobre os lobos. Fá-Io porque os seus genes a obrigam a fazê-Io e, ao longo de milhões de anos, as coelhas que possuem o gene «manter-se afastada da lura» conseguiram ter mais filhos vivos do que as que possuem o gene «ficar dentro da lura». O triunfo desse gene é a prova de que era útil no ambienteevolutivo da espécie, isto é, quando havia lobos. Agora que em muitos países não existem lobos nem mesmo outros predadores, esse comportamento da coelha pode ser inútil, contudo, a coelha não o sabe e continua a agir do mesmo modo.
A mãe coelha deixa as suas crias escondidas na lura e amamenta-as apenas uma ou duas vezes por dias.
Para passar tantas horas sem comer, os coelhos bebés necessitam de um leite muito concentrado: 13 por cento de proteínas e 9 por cento de gordura. A cria da cabra acompanha a mãe para toda a parte e mama de forma quase contínua, pelo que o seu leite contém apenas 2,9 por cento de proteínas e cerca de 4,5 por cento de gordura.

O leite materno contém cerca de 0,9 por cento de proteínas e 4,2 por cento de gordura. Quanto tempo pensa que um bebé consegue aguentar sem mamar?

Como numa coreografia delicada, as crias vão evoluindo em consonância com as mães e com a composição do leite: os coelhos que tentarem sair da lura para seguir a mãe morrem jovens, da mesma maneira que os cordeiros que esperam pela mãe em vez de a seguirem. Quando estão sozinhos na lura, os coelhos ficam absolutamente imóveis e calados, pois, se chorassem e chamassem amãe, poderiam atrair os lobos. Pelo contrário, as pequenas cabras que perdem de vista a mãe durante um momento começam a chamá-Ia desesperadas.
De maneira que o comportamento da mãe e das crias é diferente e característico de cada espécie, estando adaptado à sua forma de vida e às suas necessidades.

Seria ridículo tentar explicar a uma coelha que deve ser «uma boa mãe» e passar mais tempo com os filhos, do mesmo modo que seria absurdo dizer a uma cabra que não deveria andar sempre com a sua cria «agarrada às suas saias», porque a cria necessita de «tornar-se independente » e a mãe «também necessita de momentos de intimidade para viver em casal».

Os primatas em geral necessitam de um contacto contínuo com a mãe.
John Bowlby, um pedopsiquiatra inglês, descreve pormenorizadamente em Attachments o comportamento de apego em diferentes primatas apartir da observação de numerosos cientistas. Explica, por exemplo, as aventuras de outro investigador, Bolwig, que decidiu criar em sua casa uma cria de macaco órfã, tomando o papel de mãe substituta para estudar as suas reacções. Curiosamente, recebia, como as mães humanas, conselhos de toda a gente sobre a melhor maneira de criar o pequeno macaco.

Bolwig descreve a intensidade do apego manifestado pela cria cada vez que convenciam o seu tratador (a despeito da maneira como pensava) da necessidade de a castigar, fechando as portas da casa, por exemplo, ou encerrando-a numa jaula. «Sempre que tentei fazê-10..., produzia-se um atraso no desenvolvimento do macaco. Aumentava o apego que sentia em relação a mim e ficava mais travesso e mais difícil de levar.»

O castigo e a separação dão tão mau resultado num macaco como numa criança. Vejamos o que aconteceu um dia em que Bolwig fechou o macaco numa jaula:Agarrou-se a mim e não permitiu que me afastasse do seu campo de visão durante o resto do dia. Durante a noite, enquanto dormia, de tempos a tempos acordava, emitia breves lamentos e agarrava-se a mim, e, quando me tentava soltar, experimentava um profundo terror (Bolwig, citado por Bowlby).Se os cientistas encontrassem um animal novo, até agora desconhecido, e quisessem observar rapidamente (sem necessidade de o estar a observar durante semanas) qual é a sua maneira habitual de cuidar das crias, poderiam levar a cabo uma experiência muito simples: levar a mãe e deixar as crias sozinhas. Se ficaremquietas e caladas, é porque é normal nessa espécie que as crias fiquem sozinhas. Se começarem a gritar como se as estivéssemos a matar, é porque o normal nessa espécie é que as crias não se separem da mãe nem sequer por um momento.

E o seu filho? Como reage ele quando a leitora se ausenta? O que lhe parece ser o normal na nossa espécie?
Através do comportamento dos comportamento dos nossos filhos, da observação dos nossos parentes (animais) mais próximos, da composição do nosso leite, podemos concluir que o ser humano pertence plenamente ao grupo de animais que mamam de forma contínua.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Relato de Amamentação

Relato de Amamentação de Gisele, mãe de Enzo

Me preparei a gravidez inteira para o meu parto domiciliar. Lia tudo que passasse na minha frente, no entanto nem pensei no tema amamentação, achei que fosse simples e fácil, que o meu filhote iria para o meu peito, tomaria seu leitinho e tudo ficaria feliz: que engano!

Foram 10 dias de UTI, saí do hospital com meu filho, nascido em casa, mas que teve após o parto desconforto respiratório de causa desconhecida.

Saí do hospital sem orientação nenhuma, e achando que tudo estava resolvido. Meu filho não estava ganhando peso por isso o hospital não queria liberá-lo embora ele estivesse bem. Sua alta foi feita pelo nosso pediatra na época o Cacá. Na primeira noite em casa meu filho chorou a noite toda, de fome provavelmente, pois eu não tive a feliz idéia de levá-lo ao peito! Ficava olhando para ele o tempo inteiro, mas não me dei conta de que ele precisava se alimentar. Após uma noite inteira de choro, ligamos para a avó mais próxima, que sugeriu que déssemos leite artificial para ele. E assim foi feito.

Com uma semana de vida, após a maioria das mamadas era oferecido ainda 30ml de leite artificial. Eu simplesmente não acreditava que meu leite era suficiente para ele, mesmo com os peitos cheios.

Porém, o complemento não foi o único vilão do desastre inicial da minha história de amamentação. Após um mês, não entendia como meus peitos poderiam estar ainda tão machucados e feridos. Não havia nada que os fizesse cicatrizar, nem lansinoh, nem sol, nem casca de mamão e banana, nem secador nada… Eu tentei de tudo. Eu chorava o dia inteiro desconsolada pois não conseguia amamentar sem dor. Sentia fisgadas medonhas durante cada mamada e me lembrava quão melhor tinha sido sensação da dor do parto, perto da dor que eu sentia ao amamentar o meu filho. A cada fim de mamada eu prometia a mim mesma que ia comprar uma mamadeira para ele e desistir de amamentar.

Quando o Enzo completou 30 dias de vida, o diabinho do complemento ainda rondava a nossa mamada e então decidi: a partir de hoje não dou mais uma gota de leite artificial para ele, nem que meus bicos caiam. E assim foi. Eu amamentava com uma dor maldita, até que ele ficasse satisfeito. O suor escorria pelo meu rosto a cada mamada, cheguei uma vez a desmaiar de dor mas promessa é promessa e desde então nunca mais voltei atrás.

Sentia um vazio enorme, a dor ao amamentar era muito grande. Com ela vinha uma sensação de impotência muito grande, eu achava que não tinha leite, que meu filho estava magro, que eu não era capaz de nutrí-lo com eficiência. Não me passava pela cabeça que eu fui capaz de alimentar o meu filho durante 9 meses na minha barriga, por que não conseguiria agora?

Vivia o tempo inteiro verificando o estoque de leite nos meus seios. Eu realmente achava que eles precisavam estar sempre pingando de leite, que eles sempre deveriam estar cheios e quando eu os sentia um pouco murchos, eu começava a achar que meu leite ia secar. Tomei vários remédios, vivia fazendo compressas quentes para aumentar uma produção que já era abundante, no entanto eu não me dava conta. Era uma insegurança desmedida.
Mas a dor não melhorava nunca e eu cada dia que passava, pensava em desistir.
Após muito conversar com o Cacá, pediatra do Enzo, com as meninas da lista, da Matrice, navegar horas e horas na Internet em busca de uma possível solução, começamos a desconfiar que a pega dele pudesse estar errada e realmente estava. Consultamos uma fonoaudióloga especialista em amamentação que constatou alguns problemas: pega, posição e movimento da língua incorretos. Além disso ela afirmou que ele tinha uma sucção extremamente forte, que aliada a minha pele clara, contribuía ainda mais para machucar os meus seios.

Comecei então uma série de exercícios para tentar melhorar a pega dele, que realmente começaram a dar resultados positivos, no entanto meu peito nunca cicatrizava. O Enzo completava dois meses, a pega estava bem melhor que no início, no entanto meu seio continuava muito machucado, avermelhado e a dor na mamada era absurda. Em algumas mamadas eu tirava meu leite com uma bomba manual para não ter que oferecer o peito. Eram algumas mamadas de alívio.

Discutindo com os profissionais que estavam me ajudando, chegamos à conclusão que eu poderia estar com Monilíase mamária, ou candidíase, e comecei então a fazer o tratamento. Começamos com um remédio que eu passava no meu seio e no cantinho da boquinha do Enzo. Uma luz no fim do túnel: a dor começava a diminuir. Como eu fiquei feliz! Porém a minha felicidade durou pouco. Meu seio de uma hora para outra e sem explicação começou a piorar novamente e amamentar voltou a ser um pesadelo.
Novamente no médico, chegamos à conclusão que seria necessário que eu tomasse remédio via oral. Iniciamos então com uma dose baixa. Tomei comprimidos durante 14 dias, passava remédio no seio, na boquinha dele e nada do meu seio melhorar. O Enzo já estava com 3 meses e eu mal conseguia sair de casa, pois começava a chorar só de imaginar ter que amamentar em público e ter que conter a minha dor, fazendo cara de paisagem. Eu sentia dores horríveis. A vontade que eu tinha era de jogá-lo para cima na hora da mamada e eu me sentia muito mal por isso, pois o que eu mais queria era amamentar. Fomos para o último plano: remédio via oral em doses altas. E assim fiz. No começo comecei a ficar desesperada pois não via efeito nenhum e essa era a minha última esperança. Tomei esse remédio por 6 semanas consecutivas e perto do Enzo completar 4 meses comecei a sentir o verdadeiro prazer de amamentar, sem dor, sem medo, sem tensão.

Quando o Enzo tinha 3 meses, comecei a fazer estoque de leite materno para quando eu voltasse a trabalhar, o que aconteceria dentro de 3 meses. Aos poucos meu freezer estava cheio de leite, o que fazia com que a minha auto-estima aumentasse. Acho que isso ajudou muito a minha melhora.

No meio dessa corrida toda, eu mostrei meus peitos para tanta gente em busca de uma solução para minha dor. Só não usei como remédio titica de galinha, do resto eu fiz de tudo: vitamina C, sol, complexo vitamínico, banho de luz, secador, pomadas mil, conchas, absorventes, seios amostra, cascas de frutas.

Meu histórico para uma amamentação bem sucedida era catastrófico: bebê internado 10 dias na UTI, pega completamente errada, a pele do seio bem clara, sucção forte, falta de informação, insegurança, seios machucados, monilíase e embora meu filho ganhasse um peso adequado à curva de crescimento, ele tinha um estereótipo magro e todo mundo que o via, dizia que ele estava magro, sugerindo que meu leite não era suficiente ou era fraco, e quando ele chorava, sempre escutava palpites que era de fome, pois um bebê magro normalmente não parecia estar bem alimentado, uma vez que não era um bebê gordo na visão das pessoas.

Todo esse sofrimento para amamentar, não foi em vão. Eu sofri a cada mamada mas ao mesmo tempo eu fui muito atrás de informação: lia livros, sites de amamentação, conversava muito com gente que acreditava que da mesma maneira que eu fui capaz de gerar, nutrir e parir, eu seria capaz de amamentar o meu filho exclusivamente.

Tudo o que aprendi neste tempo, tento colocar em prática, ajudando mães a ter auto-confiança a amamentar exclusivamente.

Com 5 meses decidi alugar uma bomba elétrica para aumentar a minha produção e consecutivamente meu estoque no freezer. Com 6 meses voltei a trabalhar. Tiro meu leite no trabalho 2 vezes por dia, deixo na geladeira e transporto para casa no final do dia. Separo o leite em potes menores, coloco no freezer, somando-se ao estoque que já tinha. Mesmo passando no mínimo 12 horas fora de casa, continuo amamentando. Amamento antes de sair, quando volto e ele ainda não está dormindo e ele toma meu leite outras 3 vezes durante o dia enquanto eu estou fora, além de ter uma alimentação variada.

Hoje sei que tudo o que eu passei talvez eu precisasse passar para então ajudar tantas mães com quem tenho conversado e dividir tudo o que eu aprendi. Hoje sei que amamentar não é fácil, mas que a tranqüilidade é tudo e é fator determinante para o seu sucesso. Hoje sei que meus seios nunca precisariam estar cheios de leite, para que meu filho ficasse satisfeito. Hoje entendi que muitos dos meus sofrimentos foram inúteis e que poderiam ser amenizados com um mínimo de informação sobre a dinâmica do leite.

Meu filho hoje está com 10 meses, é um bebê saudável e extremamente feliz. Meus peitos hoje não enchem mais, mas eu me sinto extremamente segura de que tenho leite suficiente para deixá-lo satisfeito a cada mamada e que toda a passagem da minha amamentação, só contribuiu para que eu ajude muitas mães que hoje passam pelas mesmas inseguranças que eu passei.

Gisele, mãe do Enzo,
nascido em 02 de setembro,
de parto domiciliar.

Amamentar é a verdadeira junção das palavras mamãe e amar.